Discussões do 35º Congresso Nacional dos Jornalistas
Rio Branco, Acre, Brasil
Tema – O Jornalismo Ambiental na academia e a formação dos profissionais
Esta mesa teve a participação de Arthur Leite, assessor do Ministério Público do Estado do Acre e das professoras Ilza Girardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Patrícia Kolling, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). De acordo com Leite, quando o assunto meio ambiente colide com o assunto desenvolvimento, a visão preponderante na mídia é a de que o meio ambiente atrapalha o desenvolvimento do país e a geração de empregos.
Devido a esse fato, matérias ambientais não são muitos fáceis de “vender” (gíria utilizada na área para emplacar). Este contexto é bem planejado e fomentado pelas empresas de mídia que, em geral, são patrocinadas pelo grande capital que também é dono das grandes empreiteiras que realizam as obras. Produzir desenvolvimento custa caro e a parte ambiental é sempre convidada a ceder e a se recolher.
O problema de se cobrir corretamente o jornalismo ambiental é que o jornalista não tem o tempo necessário para ambientação com o assunto. Quem se interessa por qualquer área do Jornalismo deve investir em uma formação como hobby, estudar à parte: pesquisar sites, ler revistas e livros que tratem do tema. Jornalistas dos veículos radio e TV geralmente guardam pouco da cobertura ambiental que fazem, esquecendo muitas vezes do que leram ou falaram quando estão apresentando.
Outro ponto crucial para um jornalista ambiental são as fontes: é fundamental frequentar instituições ligadas ao meio ambiente como ONGs e Fundações, além de saber suas causas e questões. Um bom embasamento é fundamental para qualquer tipo de jornalista. Ilza Girardi, professora da UFRGS, reafirmou as dificuldades de se vender uma pauta ambiental, e ressaltou a importância do estudo e da leitura sobre o assunto para facilitar esse processo.
Para ela, eventos ambientais tem natureza complexa, é necessário o investimento do jornalista na sua formação, pois essa é uma função social importante. É preciso ler sites, comprar livros, participar de eventos, “se aculturar” na área, além de se envolver em causas. Ilza chamou a atenção para a importância de Laboratórios de comunicação sócio-ambiental, eco- jornalismo, matérias de Jornalismo Ambiental, Jornalismo e Meio Ambiente nesse processo de “aculturação” dos jornalistas.
O Jornalismo Ambiental faz elo com a Geografia, com a Agronomia e com a Sociologia. Não se pode pensar limitadamente. Transformações climáticas não são fenômenos inesperados. Em geral eles vão se anunciando, dando pequenas mostras de seu desfecho. Os geógrafos são os primeiros profissionais/estudiosos a adiantar isso. Então é importante que se mantenha um contato, pois eles nos ajudam a explicar os fenômenos.
Para Ilza Girardi precisamos mudar o modo de pensar e isso não é fácil. A natureza não é só para a obtenção de lucro. A privatização da Embrapa, que mesmo com poucos recursos tem muitas soluções para o Meio Ambiente brasileiro, já está em curso e não está sendo noticiada pela mídia.
Tema: O Jornalismo Ambiental nas redações e o compromisso dos profissionais
Esta mesa foi dirigida por Reinaldo Canto, jornalista da Revista Carta Capital. Segundo Canto, o compromisso dos profissionais que cobrem Jornalismo & Meio Ambiente deve se pautar pelas seguintes perguntas: Quais são as causas da sociedade que devemos abraçar? Quais são as questões que, por acesso antecipado, devemos fomentar nas discussões da sociedade?
A lógica de mercado nos impõe a compra de vários equipamentos, mas essa não é a lógica do planeta. Ter mais de dois aparelhos celulares garante o nicho das empresas com seus clientes, mas não garante o menor consumo de materiais nobres, não devidamente recicláveis como prata, chumbo, dentre outros. A redenção para o meio ambiente não virá da ciência e da tecnologia. Elas podem até ajudar, mas não irão resolver os problemas em definitivo.
O que deverá resolver é a nossa mudança de atitude. Reinaldo ressaltou também a desigualdade social presente no Brasil, falando sobre o fato de sermos o 6º país no ranking da Economia Mundial, mas o 84º em Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Para ele o PIB não é tradução para qualidade de vida e nós temos que pensar muito no que significa ser esta 6ª economia do mundo.
É necessário pensar na qualidade de vida das pessoas, requalificar o que se chama de crescimento e contribuir, a partir do jornalismo, para uma reflexão sobre os apelos exagerados de consumo. Nas décadas de 60, 70 o progresso era ilustrado pelas imagens das chaminés das fábricas. Hoje esse progresso é ilustrado pelas energias renováveis e estas devem ser prioridade estratégica para um país.
O processo de consumismo, a contaminação da água, a poluição atmosférica, o empobrecimento e a contaminação do solo, os alimentos cada vez mais caros e menos nutritivos são questões que devem preocupar e pautar diariamente o jornalista da área. Segundo a avaliação de Reinaldo Canto, os atuais obstáculos para o exercício do jornalismo ambiental nas redações são o embate sempre desigual entre a informação consciente e o bombardeio publicitário, a cultura do consumo e do desperdício e a ausência do exercício de cidadania, além de uma análise mais aprofundada sobre os fatos para falar deles com propriedade.
Revisão: Alessandra de Falco