Onde queres estar?

Como você começaria um texto sobre a maior e melhor experiência da sua vida? Vamos lá. Você há de concordar comigo, meu caro, que, por mais poeta nato que seja, não é tarefa fácil externalizar um sentimento intrínseco, seja ele qual for, em um amontoado de palavras que possa fazer algum sentido para quem irá ler.

Mas, convenhamos que a escrita tem o dom de transformar um momento efêmero ou uma experiência temporária em algo eterno. E é, exatamente por isso, que sempre compensará colocar a cabecinha para funcionar e criar períodos simples e parágrafos complexos quando falamos de ocasiões especiais. Dito isso, “simbora”então.

Me diz aí, você: quem nunca sonhou em, um dia, sair do seu lar, do esperado, da rotina e do comodismo habitual? Eu, por exemplo, sempre sonhei em sair de casa e ir morar coladinha com o Cristo Redentor. E ainda sonho. Assim como muitos sempre apoiaram minhas maluquices, mais ainda eram e são os que criticam e riem quando falo desse meu sonho e de tantos outros que carrego dentro de mim. Diziam-me que eu devia colocar meus pés no chão e cair na realidade. Ainda bem que sempre, sempre e sempre fui muito teimosa (para o delírio dos meus pais) e nunca deixei de sonhar alto. Tão alto que não me mudei apenas de estado, mudei de continente (só de pensar, já me arrepio).

Tenho que confessar que, embora sempre quisesse conhecer o exterior, nunca me imaginei vivendo nele. Saí, então, do aconchego do meu lar. Deixei família, amigos, amor, trabalho e fui, sim, em busca de algo que, embora há 5 meses atrás eu não sabia, mudou completamente a minha vida. Descobri tantas coisas que poderia fazer um livro contando. Coisas clichês, daquelas que todo mundo sabe e que se acha fácil no google, coisas que ninguém sabe e coisas das quais eu nunca, mas nunca vou me esquecer e, talvez, nem vá viver novamente.

Descobri, aos 22 anos de idade, que da missa, eu não sabia nem a metade. E ainda não sei e nunca irei saber. Descobri que o ser humano tem uma infinidade de facetas e que, sim, a limitação geográfica nos impede de sermos quem realmente somos e de fazermos o que, de fato, queremos fazer. Perdemos tanto tempo pensando no que as pessoas pensam ao nosso respeito. E não somos vítimas nesse processo não, meu filho! Perdemos tempo demais julgando pessoas pela forma como vivem, definindo rótulos e estereótipos pelo que elas vestem, escutam e fazem.

E esquecemos que, no final, só o que vale nessa vida é o bem que você faz para alguém e, somente, a SUA felicidade. Descobri que existe uma palavra mágica no dicionário e que, infelizmente, não a usamos tanto quanto devíamos: respeito. Saí de um Brasil com uma visão de certo e errado materializado. E agora volto para ele sabendo que não existe um certo e um errado, nem uma mocinha e um vilão. Assim como existem várias facetas de si mesmo, existe uma infinidade de culturas, gostos, religiões. E só o que precisamos é refletir, analisar e respeitar, acima de tudo e qualquer coisa.

E nesse mundão de tantas coisas, eu vi a Roma antiga, a alta moda de Milão e o luxo de Paris. Vi também a simpatia dos holandeses e a arquitetura de Madrid e Barcelona. Provei a cerveja e a batata frita da Bélgica e convivi durante um “bocadinho” de tempo com a literalidade extrema dos portugueses. Vi o céu do deserto, mas também vi fome, preconceito e exploração.

E isso tudo, meus caros, mexeu muito comigo. Sou algo diferente hoje pelas coisas que vivi e vi. O que eu levo comigo na bagagem é, definitivamente, o que os meus olhos viram, os lugares em que meus pés pisaram e as experiências que meu corpo viveu. Vou embora hoje com a certeza de que alcancei o que eu procurava quando saí da minha zona de conforto. E, a partir de agora, estou certa de que a pior área para ficar é nessa “zoninha” nada interessante.

Vai aí, então, um conselho meio “clichêzão”, mas que sempre vale a pena reforçar (mas quem foi que pediu conselho, hein?): saia da rotina, busque algo novo, force o seu eu a viver situações novas e desconhecidas. Escape de você mesmo, quantas vezes for necessário, para descobrir suas outras tantas facetas desconhecidas.

Olha só. Eu falo muito sério quando digo que essa experiência mudou completamente a minha vida. Hoje, não sou a mesma de quase seis meses atrás e daqui a alguns dias não serei mais a mesma que viveu dias intensos nas maravilhas do Porto. Ainda tem uma parte final dessa salada de palavras que ainda não contei e que, pensando bem, nem sei ao certo se é um ponto que gosto ou desgosto nessa história. Viver no exterior faz de você uma pessoa dividida. Você nunca mais (não gosto da palavra “nunca”, mas ela se adequa perfeitamente à situação) será ou se sentirá completa de novo. Haverá sempre um buraco dentro de você, uma vontade imensa de estar nos dois lugares ao mesmo tempo, de ter as pessoas de lá e de cá num mesmo jantar e de ser os seus dois eus ao mesmo tempo.

Mas isso, tenho que dizer, é um mal que vai lhe (me) acompanhar para sempre. E se vale a pena largar tudo em busca de uma nova vida em um lugar totalmente diferente? Ôh, se vale, rapaz! Se tem uma vontade, bem lá no fundo, que seja, de ir, não pense duas vezes e vá. Eu lhe garanto! Você nunca irá se arrepender dessa escolha.

‘Mas já acabou a história? Você não disse nada com nada até agora’. Sinto muito em lhe dizer, mas o final desse conto nada formal é você aí mesmo quem escreve, pois só vivendo esse sonho que você vai entender direitinho o que eu tentei descrever aqui. Ah! E não se esqueça: Só vá!

Texto: Thayanne Nascimento
Edição: Dani da Gama