A história, as mudanças e o futuro: os 40 anos da Rádio Emboabas de São João del-Rei
Emboabas foi a primeira FM na cidade e passou por uma série de mudanças desde a criação – do perfil das rádios à migração do AM para FM e o uso da internet
“ZYN 307, 1480 kHz, Rádio Emboabas AM, Tiradentes, Minas Gerais, operando em caráter experimental”. Foram essas as primeiras palavras da história da Rádio Emboabas, ditas por Sérgio Cavalieri, na tarde do dia 27 de agosto de 1978. De lá pra cá, ele e ela mudaram muito.
A Sociedade Emboabas foi fundada em Santa Cruz de Minas, que àquela época ainda era apenas um bairro de Tiradentes. Isso aconteceu porque, de acordo com a legislação, São João del-Rei não tinha o número de habitantes suficiente para ter duas emissoras de rádio na cidade – a primeira foi a Rádio São João, fundada em 1947. Inicialmente, a Rádio Emboabas funcionou em regime experimental – sem anúncios. Segundo o pesquisador Rodrigo Resende, a primeira música a tocar na nova emissora foi “Não chore não”, da cantora brasileira Alcione.
O processo de radiodifusão já funcionava através de concessões, então os interessados precisavam de certo peso político para conseguir a licença. O grupo que fundou a rádio era formado por alguns membros de um grupo da Aliança Renovadora Nacional, a Arena, liderado por Lourival Gonçalves de Andrade, àquela época prefeito de São João del-Rei e conhecido como “Zé Menino”. A outra emissora da cidade era liderada por uma associação simpatizante ao MDB.
E a voz que marcou a primeira mensagem da rádio entrou na história da Emboabas de forma casual e antes mesmo de ela ir ao ar: Sérgio foi chamado para auxiliar na montagem dos aparelhos, mas Zé Menino percebeu no jovem estudante de engenharia mecânica um potencial para auxiliar na área técnica da nova rádio. E Sérgio não parou por aí: apresentou programa sertanejo, narrou jogos de futebol…
Nesse meio tempo, também foi feita a primeira transmissão externa da rádio, cobrindo a tradicional Semana Santa são-joanense. Sérgio relatou um pouco das dificuldades técnicas que enfrentaram ao fazer a cobertura. “Me lembro muito bem que nós não tínhamos nem a maleta para a transmissão externa”, recorda Sérgio. A transmissão contou com apoio da rádio Inconfidência, que através do técnico Nelson Fialho, montou uma mesa de áudio com duas saídas para microfones a partir de uma maleta “usada por médicos”.
O produtor Chico Rodrigues conta que a decisão de transmitir a Semana Santa foi influenciada pela tradição da cidade e a busca por uma programação mais atrativa durante o período: “Era proibido tocar qualquer tipo de música que não fosse clássica, então a gente pensou: ‘por que não transmitir a Semana Santa?’”. Na época, a celebração ainda era feita em latim e os ritos só não eram mais completos do que no Vaticano. Chico menciona que a transmissão fez bastante sucesso e contava também com um comentarista, para descrever as imagens e explicar o que estava acontecendo no intervalo entre um rito e outro. “Ligava gente direto do hospital de outras cidades da região para agradecer a transmissão, já que eles não podiam vir pessoalmente”, lembra.
Com o conhecimento para fazer transmissões externas, a Emboabas passou a cobrir também o carnaval de rua, desfiles de escolas de samba e outras festas de grande público. Até um programa de auditório foi criado no antigo cinema do bairro Matosinhos, onde os moradores podiam cantar e dançar em um show de calouros.
Com o passar dos anos, a rádio se destacou também pelas “reportagens volantes” feitas através de rondas em hospitais, delegacias e prefeituras e entrevistas com os envolvidos sobre assuntos de interesse da população. Em 1979, o Jornal Amanhecer (foto) realça a participação de Sérgio e afirma que a Rádio chega a 80% de audiência na região.
Anos mais tarde, surgiu o programa “Circulando pela Cidade”: noticiário feito por um âncora no estúdio e um repórter na rua, que fazia o trabalho in loco. O “Circulando” se manteve no ar até o início de 2018, quando a grade de programação da Emboabas AM foi modificada.
Na década de 90, Maria José, apresentadora de um dos programas de maior audiência da rádio AM, chegou na Rádio Emboabas. Ela começou a trabalhar como substituta de uma locutora que estaria de férias durante 15 dias, mas permaneceu. “Um belo dia cheguei na rádio durante o carnaval e não tinha nenhum locutor. O que eu fiz? Coloquei a rádio no ar! Liguei os transmissores e comecei! Coloquei música, falei a hora, avisei a Mary lá em cima e ela me disse pra continuar, que eles estavam me ouvindo. Eram pra ser só 15 dias e agora já são quase 27 anos”, lembra.
Maria José já ouviu que não tinha talento para rádio, mas – para ela – o seu jeito otimista e as músicas românticas de seu programa acabaram conquistando os ouvintes. “Eu tento sempre passar uma boa mensagem e não demonstrar quando estou meio pra baixo”, conta. “Mas tem uns ouvintes que são tão ligados que me ligam e perguntam ‘Cê não tá bem hoje não? O que foi?’. Tem dia que não é fácil, mas a gente sempre tenta passar alegria”.
O locutor Zé Luiz tem uma história parecida com a de Maria José. . Ele tentou entrar para a equipe da rádio em 1978. Mas por confundir “mobiliadora” com “imobiliária” perdeu a vaga por nervosismo e ouviu que “não tinha jeito pra isso”. No Natal de 1980, fez o teste para radialista na Rádio São João e começou a trabalhar na concorrente.
Em 1982, fez um novo teste para a Rádio Emboabas, onde trabalha até hoje e definiu seu estilo de “comunicador, que é quem conversa com o ouvinte sobre os assuntos e as matérias dos programas que se propõe a fazer em vez de só ler e apresentar as notícias”. Esse perfil lhe garantiu o cargo de repórter do programa “Circulando pela Cidade”, no qual entrevistava pessoas nas ruas da cidade sobre assuntos de destaque.
Anos mais tarde, ele assumiu a ancoragem do “Circulando” e o trabalho de reportagem volante ficou a cargo de Ângelo Wiermann. A migração da rádio para o FM fez com que o programa também fosse cancelado. Atualmente, tanto Ângelo, quanto José Luiz são âncoras.
As transmissões esportivas
A locutora Mércia Natali, filha do também radialista Ari Neto, relata a identificação da população com a rádio, que cresceu muito por meio da relação com o futebol. Segundo a apresentadora, o que ela mais ouvia do pai (que era um dos narradores esportivos) sobre a Emboabas, enquanto ainda morava em Barbacena, era justamente essa ligação – manifestada nas transmissões radiofônicas. “O assunto lá em casa geralmente era ligado ao futebol, aos campeonatos daqui. Porque naquela época, o campeonato de futebol era muito forte aqui em São João del-Rei. As pessoas iam muito. Então o assunto era, geralmente, o jeito que o são-joanense era apaixonado pelo futebol”, conta.
A Rádio Emboabas começou a fazer transmissões esportivas em um momento estratégico, de acordo com Sérgio. Foi quando a rádio São João deixou momentaneamente de transmitir futebol, então não havia concorrência.
Outro participante ativo da cobertura esportiva da Emboabas foi Antônio Ribeiro Neto, o Netinho, sonoplasta e locutor da emissora, que ingressou no setor esportivo por acaso. ”Quando tinha transmissão, o Antônio Ângelo fazia. Ele, como comentarista, me chamava. Eu fazia a técnica do programa, fazia o Plantão Esportivo pra ele… Então eu fui começando desde essa época do seu Antônio”, relembra.
Netinho, que entrou na Rádio Emboabas em 1986 como office-boy, ainda comentou sobre as dificuldades da época. “Eu ficava sempre ouvindo a rádio de fora pra passar pra eles. Não tinha internet na época, era difícil. Tinha que ficar ouvindo a transmissão da Emboabas, ouvindo a transmissão da Itatiaia, para pegar o resultado e passar pra eles”.
O repórter Sérgio conta que a rádio cobriu diversos eventos esportivos, como o Torneio de Inverno de Futebol de Salão; uma partida da seleção brasileira no estádio Mineirão – a partida foi disputada por Brasil e Chile – e destacou a cobertura da final do Campeonato Brasileiro, entre Atlético Mineiro e Flamengo, em 1980. “As rádios de Minas Gerais foram sabotadas, inclusive a nossa. Naquela época tudo era a base de fio. E eu me lembro muito bem que nós tivemos nossa parte de transmissão com o repórter de campo cortada. Os fios foram literalmente cortados com alicate, dava para ver direitinho, mas não foi só a Emboabas, foram várias emissoras de Minas, inclusive a Itatiaia que era uma rádio de todo respeito no futebol”, relata. Ainda de acordo com Sérgio, a situação ocorreu para ajudar de alguma forma na vitória do time carioca.
Ele era conhecido por jogar e narrar, desde pequeno. Conta que quando criança tinha o costume de narrar a si mesmo jogando bola. Fazendo isso quase decepou a própria língua: “atropelei uma bicicleta, bati o queixo no guidon e mordi a língua. O resultado foram treze pontos”. Mas não parou por aí: após entrar para a rádio Emboabas assumiu a função de narrador, mas também era jogador profissional. Em jogos de seu time, quem assumia a narração era Paulo Procópio. Sérgio foi campeão amador com o Montanhês em 1989.
Em 1987, foi chamado a trabalhar como narrador em Belo Horizonte pela Itatiaia, mas decidiu ficar em São João del-Rei. A amizade facilitou que a pequena rádio são-joanense conseguisse uma cabine exclusiva no Mineirão.
Atualmente, a rádio não realiza mais transmissões esportivas, nem faz parte de alguma rede de rádios com esse fim. O argumento, segundo o ex-narrador, é o alto custo para transmissões das grandes competições e a diminuição dos campeonatos de futebol da cidade.
A criação da primeira rádio FM da região
A Rádio Emboabas foi a primeira da cidade a conseguir uma concessão para transmitir em frequência modulada (FM). A nova frequência foi ao ar no dia 5 de abril de 1983 e foi a primeira em um raio de 200 km.
Nesse meio tempo, os demais participantes da Sociedade Emboabas venderam suas cotas a Lourival, que permaneceu como único membro e presidente. O negócio se tornou familiar e atualmente é gerido por seus filhos e netos.
De acordo com a historiadora Bárbara de Freitas, com a operação das duas rádios, a rádio AM ficou mais focada no entretenimento – com programas informativos e prestação de serviço – e a rádio FM mais voltada para a música e captação de recursos através de anúncios publicitários.
A primeira década da Rádio Emboabas 96 FM funcionou voltada para a programação musical. A organização de ambas as rádios ainda era um pouco amadora, na opinião de Bruno Caputo, apaixonado por rádio e atual técnico do laboratório de rádio do curso de Jornalismo da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). “A gestão familiar e a forma de produção era mais artesanal, o que condizia com o rádio da época que era mais ‘solto’, já que não tinha tanta concorrência e recursos”, explica.
Mércia começou a trabalhar na Rádio nessa época. Conviveu em meio à equipamentos e transmissões desde pequena, mas não se imaginava como radialista. “Eu gostava muito de ouvir rádio. Lembro que quando eu e minha irmã éramos pequenas, as crianças da escola sempre recorriam à gente pra saber de nome de música, intérprete e tudo mais, justamente por ouvir tanto”, relembra. Ela entrou para a equipe da rádio em 1991, após realizar um teste, e é locutora da 96,9 FM até hoje – completando 27 anos de trabalho. “Você é alguém que entra na casa, no ambiente de trabalho e até na emoção das pessoas e isso é um negócio que eu respeito muito. É uma coisa apaixonante”, conta.
Mércia comenta que as principais mudanças na rádio foram em relação às novas tecnologias e na forma de pensar a programação. Em 2008, começou um processo de remodelagem da rádio, com a modernização dos equipamentos e mais atenção à programação, com pesquisas e adaptação de modelos de gestão e programação de outras rádios que já haviam demonstrado resultado em outras cidades. “A Emboabas se consolidou como uma rádio musical”, conclui Bruno Caputo.
A migração da AM para a rádio FM
Desde o dia 2 de janeiro de 2018, a Rádio Emboabas AM opera em frequência modulada (FM). A mudança técnica não veio só: desde aquele dia, a rádio passou a ser a Emboabas +Informação 92,7 FM. O novo conceito de programação vem para resolver uma questão simples: “como diferenciar duas rádios com o mesmo nome e no mesmo dial?”.
Até então, a divisão era simples e tradicional. Uma rádio AM, outra FM. Por questões técnicas, o ouvinte das rádios não se confundia sobre qual estação estava ouvindo, visto que para ir de uma frequência a outra era preciso reconfigurar o aparelho de rádio. Diversas rádios em todo o Brasil possuem um canal em cada faixa: a Itatiaia, em BH (AM 610 e FM 95,7) e a TUPI, do Rio de Janeiro (1280 AM e 96,5 FM) são alguns exemplos.
No entanto, a migração das rádios AM para o FM – proposta discutida entre associações do setor e o governo federal – embaraçou a questão. No caso da Emboabas, a solução encontrada foi tornar a antiga rádio AM em uma FM como foco em notícias, mas sem abandonar as características mais marcantes dos seus 40 anos de existência.
A decisão faz sentido, na avaliação de Bruno Caputo. “O que o rádio AM oferece em termos de conteúdo não encontra concorrência facilmente nas novas mídias, especialmente as redes sociais”, opina. “As pessoas querem ouvir alguém que tem algo a dizer falando, não só uma voz bonita. Alguém que traga mais conteúdo e agregue alguma coisa na vida do ouvinte”.
De acordo com o diretor e neto do Lourival “Zé Menino”, Bruno Mazzoni, o processo de transição da Emboabas começou ainda em novembro de 2014, quando foi aberta a possibilidade do pedido de passagem do AM para o FM. Mazzoni, na época, foi até Belo Horizonte, na sede da repartição mineira do Ministério das Comunicações. “Fiz o protocolo e deixei, porque sabia que [o processo] era lento. No início foi sempre tudo muito lento, porque teria que ter outras normas vindo depois disso”, comenta.
A parte prática da migração, porém, começou apenas após dezembro de 2016, quando finalmente foi assinado o processo de transição. “Teve um evento com o atual presidente Michel Temer e outros ministros. Nós fomos até o Ministério, em Brasília, e assinamos. Daí em diante, a gente teve que fazer projeto, aprovar, fazer a logística de montagem toda”, explica.
Para a mudança enfim chegar aos ouvintes, houve um grande processo de reformulação na rádio. “Uma coisa que foi muito trabalhosa foi a parte artística, que teve que mudar plástica, teve que mudar a programação. Nós fizemos estudos, foi tudo muito bem pensado”, revela Mazzoni. E esse processo ainda não acabou. “Tem coisas que acertamos, coisas que podemos ter errado, mas estamos trabalhando para acertar. Quanto mais planejamento, menos chance de erro”, enfatiza. O diretor enfatiza ainda que, com o processo de transição, ambas as faixas se tornaram mais arrojadas. “É a fase em que as rádios estão a todo vapor, que elas estão vivendo um momento de muito dinamismo, de muito trabalho”, avalia.
O conceito da rádio é ter o jornalismo como carro-chefe. É tanto que o nome mudou – de Emboabas AM para Emboabas +Informação; o espaço destinado aos noticiários dobrou, em comparação com a antiga programação no AM (veja no gráfico abaixo); A equipe de jornalismo também cresceu – passou dos três (sendo um estagiário) para seis (sendo dois estagiários). Porém, a rádio ainda mantém parte da programação que era exibida na antiga rádio, como os programas de entretenimento e os programas religiosos.
Outra diferença é o tamanho dos programas: antes, eles duravam horas. Atualmente, no máximo 15 minutos, fazendo com que vários programetes de enfoques diferentes sejam exibidos em sequência. Ao longo do dia, uma vinheta dizendo “eu quero, eu posso, eu vou conseguir” é exibida e ajuda a consolidar a ideia da rádio – informativa, com referências aos programas tradicionais, mas que sobretudo tenha um tom leve e positivo para o ouvinte – distanciando do formato sisudo “só notícias” das rádios dos grandes centros.
OS DESTAQUES DA NOVA EMBOABAS
Programação de 6h às 19h, quase toda feita em São João del-Rei
Apenas uma hora da programação é destinada a um programa feito em rede (Programa Pe. Reginaldo Manzoti, de Curitiba). As demais são feitas em São João del-Rei.
Programas de duração curta.
São programetes – que duram 5 a 20 minutos. O objetivo é aproveitar a audiência rotativa e dar dinamismo.
São vários noticiários, com focos diferentes:
Jornal Emboabas – 7h, 9h, 16h, 18h
Principal jornal da rádio. Entra em rede (ao mesmo tempo nas duas rádios). Jornalismo regional.
Em Foco 8h, 9h30, 15h30
Notícias sobre vagas de emprego, concursos, cursos de capacitação, economia popular, utilidade pública (documentos perdidos, apoio a instituições carentes, informativos sobre falta d’água, luz ou alterações no trânsito) e entrevistas.
Noticiário Nacional 6h35, 11h05 e 15h e Noticiário Estadual 9h45, 12h05 e 15h50
Destaques dos principais jornais, revistas e portais do Brasil e do Estado, respectivamente.
Tema da Semana 8h30, 12h20 e 17h20
Discussão sobre um assunto, de segunda a sexta, com a participação do público e especialistas.
Papo de Esportes 8h50, 11h40 e 16h30
Noticiário Esportivo.
Informe Rural – 7h35 e 11h30
Noticiário Rural.
Noticiário Policial 6h45, 8h15, 11h15 e 17h
Redes Sociais 9h15, 13h20 e 14h50
Noticiário pautado pelas tópicos mais comentados da internet. Aproveita a instantaneidade da rede social + comentários de usuários.
Boca no Trombone 8h10, 9h40, 15h45, 17h50
Espaço para o público reclamar sobre serviços e produtos que não estão funcionando.
Água, Luz, Internet, Telefone, Buracos na rua, etc.
Jornalismo em Destaque 14h
Jornal ao vivo, direto da sala de redação da Rádio, bate papo com a equipe sobre as principais notícias do dia e os destaques do Jornal Emboabas.
Debates Emboabas – Sábado 8h
Programa de Debates. Ancorado por José Mário de Araújo. Participação de debatedores no estúdio + ouvintes via redes sociais e telefone.
E o futuro da rádio?
Confira aqui a entrevista com o radialista Bruno Caputo
A modernização facilitou um pouco as coisas. “Antes tinha gravador com fita, as propagandas eram com fita, as músicas eram com fita. Pra procurar, você tinha que rebobinar a fita até você achar aquela música pra tocar. Então era um trabalho mais difícil, né? Hoje ‘tá’ ótimo. Computador e tudo programado… De vez em quando dá um pepino, mas é mais fácil do que antigamente”, conta o programador e locutor Netinho. E a informatização auxiliou, inclusive, na captação de recursos, por meio de anúncios. A locutora Mércia relata que uma propaganda, que antes era gravada em 15 minutos, sem auxílio de computadores, agora pode ser gravada em apenas um, agilizando o trabalho.
Com o avanço das tecnologias, a Rádio Emboabas encarou um novo desafio na trajetória: a transposição dos conteúdos, que eram transmitidos nas estações, para as novas mídias que surgiam. Para firmar sua presença na internet, por exemplo, a Rádio seguiu diversas frentes com redes sociais, site e, mais recentemente, com um aplicativo próprio.
A Emboabas conseguiu trazer a participação dos ouvintes, que antes era feita exclusivamente por telefone, para a sua página no Facebook. Essa rede, atualmente, figura como o principal meio de difusão de conteúdo com a audiência no meio online. Os ouvintes podem participar de sorteios, oferecer músicas, ouvir os jornais que foram transmitidos na rádio e também consumir conteúdos exclusivos, como transmissões ao vivo.
Apesar da grande penetração do Facebook, a maior aposta da Rádio na internet atualmente é o Twitter. Essa migração é reflexo das novas políticas de distribuição da rede social de Mark Zuckerberg, que agora prioriza conteúdos que são produzidos por amigos e família, em detrimento do que é produzido por páginas de empresas.
Outros destaques entre as redes sociais utilizadas pela Rádio Emboabas são o Instagram e o SoundCloud. Nesse último, são disponibilizados os conteúdos jornalísticos transmitidos pela rádio, como matérias de destaque, jornais na íntegra e debates, que são republicados tanto no Twitter, quanto no Facebook.
O site da Emboabas traz a possibilidade de reprodução ao vivo da transmissão da rádio, tanto na faixa “+Música” (a FM 96,9), quanto na “+Informação” (a FM 92,7), além do conteúdo jornalístico que foi ao ar nos jornais ao longo do dia transformados em texto. No site, o ouvinte pode também conferir a programação da rádio, os resultados de sorteios e conhecer a equipe da emissora.
O aplicativo, última interface adicionada à incursão da Rádio Emboabas, está disponível para celulares com sistema operacional Android, e traz os mesmo recursos do site, com a vantagem de se adaptar aos dispositivos móveis, que são mais populares.
O caminho de transição e convergência da Emboabas para o meio online, porém, ainda é longo. Por mais que a rádio marque presença em diversas redes, sua presença nelas ainda é embrionária e nem sempre atinge o público esperado. Os programas divulgados no SoundCloud da empresa, por exemplo, salvo exceções, amargam um número extremamente baixo de reproduções. O alcance do Facebook, apesar da participação já mencionada da audiência também fica abaixo do potencial.
Outro ponto a se levantar aqui é a instantaneidade das rádios maiores, como a CBN, a Super Notícia ou a Rádio Itatiaia – que proporcionam transmissões ao vivo em áudio e vídeos de seus programas nas redes sociais, quesito em que a Emboabas ainda não têm consolidado. O recurso do ao vivo na internet ainda fica restrito a ocasiões de grande repercussão, que requerem uma maior abrangência e rapidez na transmissão.
A grande ligação de outrora com os ouvintes – as transmissões futebolísticas – já não existe mais. Se antes o esporte era o carro chefe para alavancar a audiência, hoje ele se resume a noticiários durante a programação diária.
Fato é que a Emboabas chega forte em seus 40 anos, apesar de ter que continuar se aprimorando para alcançar níveis encontrados nas emissoras dos grandes centros. Seus desafios, porém, não limitam a importância de sua história no contexto regional, que precisa ser registrada para a posteridade. Nos próximos 40, teremos aqui registrado parte de suas histórias. Resta saber o que guarda o futuro…
Repórteres: André Lamounier, Lucas Almeida, Lucas Comine, Rebeca Oliveira e Sofia Pacheco
Editores-Adjuntos: Arthur Raposo Gomes, Clara Rosa e Juliana Galhardo
Editora-Chefe: Profa. Najla Passos