Mais do que mil palavras
Uma imagem tomou conta das redes sociais após as manifestações do último domingo, 13. No quadro registrado pelo fotojornalista João Valadares, do Correio Braziliense, uma empregada negra e uniformizada empurra o carrinho de bebês de seus patrões brancos vestindo as cores verde e amarelo que são o uniforme dos manifestantes pró-impeachment.
Nesta terça-feira, 15, os alunos do curso de Jornalismo participaram de um debate promovido em parceria entre a Coordenadoria e o Centro Acadêmico, com a proposta de refletir sobre esta imagem e suas repercussões, além dos pontos de vista sobre o atual momento político vivido pelo país e a influência que a mídia tem exercido neste cenário.
Para a professora de Linguagem Fotográfica e Fotojornalismo, Kátia Lombardi, a fotografia de João Valadares é uma imagem potente. Ela aponta como cruciais sua perspicácia e a sensibilidade na composição com elementos que lograram representar a atual conjuntura social do país. Kátia crê que o mais importante é que a imagem consiga trazer reflexões sobre essa realidade: “É o papel do fotojornalista chamar a atenção para os vestígios e traços de nosso cotidiano”, afirmou.
É, aliás, papel do jornalista chamar atenção para realidades injustas e de opressão que, por naturalizadas, são invisíveis até mesmo para os que são oprimidos. Angélica, a babá retratada na fotografia, em seu depoimento à imprensa, mostrou-se desconfortável com a exposição que sofreu, mas não criticou a situação que vivencia. Mesmo assim, afirmou, descrente quanto à situação do país: “Não sou eu que vou mudar essa questão”, sentenciando: “Infelizmente o Brasil é assim”.
Daqui a alguns anos, é provável que a imagem em que Angélica aparece seja ainda repetida em classes de Jornalismo ou em retrospectivas históricas simbolizando um momento do país em que a mídia teve participação vital. Esperemos que então mais Angélicas possam crer que, sim, essas questões podem mudar e que mudanças sociais legítimas são feitas por Angélicas, como ela. Nosso papel como jornalistas é nos mantermos críticos e criativos o bastante para contribuir.
Texto: Dani da Gama