Apocalíptica ou desafiadora?
A V Semana Acadêmica do curso de Jornalismo da UFSJ já começou intensa. A mesa de debates: “A evolução dos veículos de comunicação rumo às novas mídias” fez todo mundo ir dormir com a pergunta: é possível sonhar com uma comunicação independente e autossustentável nos dias de hoje?
A mesa contou com a participação de Leo Drummond, do coletivo fotográfico Nitro Imagens e membro do coletivo Jornalistas Livres e de Richardson Pontone, professor, publicitário e documentarista. Os convidados colocaram na roda os principais dilemas que envolvem o jornalismo independente e colaborativo e a distribuição da informação.
Richardson Pontone, professor e pesquisador da UEMG, ressaltou a importância do jornalismo independente em reconfigurar narrativas produzidas pela mídia tradicional – ou seja, possibilitar que outras histórias sejam também contadas. E nos lembrou que é preciso pensar em estratégias que possam contribuir para o empoderamento das comunidades em realidades locais, em nossas pequenas e médias cidades. (Veja nossa matéria sobre o jornal Voz do Morro!).
Mas também destacou os problemas do mercado de trabalho, e o certo “heroísmo” dos que fazem jornalismo fora das grandes mídias. Avisando, divertido, que não é preciso que os alunos vão à Coordenação trocar de curso, Pontone encara as novas mídias e o mercado on line como saídas, além do rastreio de novas fontes de financiamento. Para ele, o que falta aos comunicadores é espírito empreendedor para criar modelos de negócios com os quais os jornalistas possam pagar suas contas e aos quais possam se dedicar integralmente.
Jornalistas Livres e a “pregação para convertidos”
O fotógrafo Leo Drummond colaborou demonstrando como funciona a rede Jornalistas Livres, que agrega coletivos e profissionais que atuam de maneira independente, em uma rede de informações com um interesse em comum: a defesa dos direitos humanos. Drummond explica que tudo é decidido colaborativamente e a atividade básica é na rua, em campos de “guerra”: manifestações, situações de abuso de direitos humanos e apurações de denúncias.
Uma ótima notícia para você que já saltou na cadeira: a rede aceita trabalhos de estudantes de jornalismo. Hoje são de 30 a 40 postagens por dia na página do grupo, desde charges até vídeos e fotos. Para Leo, é uma atividade intensa e um ótimo laboratório de treinamento. Mais ainda no momento vivido hoje no país, que Drummond considera uma “guerra de narrativas”: coletivos de mídia independente, embora não sejam movimentos sociais, dão espaço para a contra-narrativa que possibilita voz aos movimentos e às minorias. Que, em verdade, representam a grande maioria da população não pautada pela mídia tradicional.
Entre medos e possibilidades, os dois convidados concordam em frisar a importância da mídia para as comunidades. Em meio a jornalistas e estudantes de jornalismo em polvorosa precisamos nos perguntar se estamos de verdade fazendo jornalismo para as pessoas, ou conversando entre nós mesmos. Se estamos falando com a parte da população que está nos bancos universitários ou efetivamente chegando às “pontas”, como define Pontone, o morador de uma ocupação, o aposentado. A babá que vai a uma manifestação sem muitas esperanças de mudança.
Leo Drummond endossa que não podemos continuar “pregando para convertidos”. Traduzindo, é preciso criar ações também fora da web, para atingir aquela parte da população que não está conectada. Criar conteúdos diferentes para atingir públicos diferentes. E pensar na função da Comunicação Social. Buscar a inclusão, no discurso e na distribuição da informação, da parcela da população que legitimará o movimento como, realmente, de democratização. Da mídia, e do país.
Se a palestra te deu sensações físicas que foram do coração apertado ao brilho nos olhos, fique tranquilo: você está na profissão certa! E a Semana está só começando!
Texto: Dani da Gama